O vestido da vitrine

Esse vestido não me serve mais. Ficou fora de moda. Não o desejo como antes. É só mais uma peça de roupa que eu quis muito ter. E hoje não caberia no meu armário.


Além do mais, já tenho um. Não é de festa, não tem brilho, nenhum detalhe em especial, mas é lindo. Ajusta-se bem ao meu corpo, mesmo com minhas oscilações de peso e de humores. O tecido tem uma qualidade ímpar. Tanto é que, mesmo com tanto tempo de uso ele não perde o viço, não desbota. Ah, é claro que isso também se deve ao meu cuidado e carinho.


Quanto ao outro que eu queria, é bem verdade que o namorei por muito tempo naquela vitrine. Na época era peça única, reservado para outra cliente. Com jeitinho consegui prová-lo mesmo assim. Eu bem poderia ter esperado um pouco mais pra ver se a tal cliente desistia dele. Mas eu era jovem e impaciente. Haviam outras urgências, outras roupas pra comprar.


E de novo o vejo na vitrine. São outros tempos e agora ele tem uma etiqueta indicando que a tal cliente o comprou. Eu poderia ousar em pedir pra experimentar e ver se ainda me cai bem. Mas, olhando bem, não o quero mais. Não porque ele não esteja mais a venda, mas porque o nosso tempo já passou. Mas é certo que sempre vou me lembrar dele, daquele vestido que namorei, mas que não era pra ser meu. (escrito em set/09)

Comentários

Djair Rod Souza disse…
Fantástico! Adorei a prosa poética a moda de Adélia.

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